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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Traqueostomia: O que é e qual o Papel do Enfermeiro?

No dia 8 de Outubro de 2012, início da minha segunda semana de práticas na Unidade de Reanimação, tive oportunidade de fazer o turno da manhã, onde por sua vez pude observar a realização de uma traqueostomia.

Este foi um procedimento que leccionei nas minhas aulas teóricas, quer em termos de execução da técnica, quer em termos de quais os cuidados de enfermagem a ter com o paciente traqueostomizado no entanto, nunca antes tinha tido a oportunidade de observar o procedimento, pelo que resolvi aproveitar o momento.

Este procedimento foi executado a um paciente, de 73 anos, que se encontrava conectado a um ventilador mecânico, numa modalidade BIPAP (ventilação por pressão), através de um tubo endotraqueal.

Por indicação médica, foi decidido realizar-se esta traqueostomia, em substituição do tubo endotraqueal, uma vez que a traqueostomia permite um maior conforto do paciente, maior facilidade na remoção de secreções da árvore traqueobrônquica e também, uma melhor e mais segura manutenção da via aérea.

Esta reflexão serve então para me ajudar a completar aquilo que foi a minha observação da técnica e futuramente, para puder prestar cuidados de enfermagem adequados ao paciente traqueostomizado.

Assim sendo, o importante aqui não é perceber como se executa a técnica, uma vez que este é um procedimento médico, mas sim em que é que ela consiste e quais as situações em que deve ser utilizada. Quanto ao papel do enfermeiro, pretendo dar aqui a conhecer quais os diagnósticos e intervenções de enfermagem, bem como a avaliação que se faz das mesmas.


Em que consiste a Traqueostomia?

A traqueostomia é um procedimento cirúrgico que consiste em tornar a traqueia acessível a partir do exterior, através de uma abertura na face anterior do pescoço, ao nível do terceiro ou quarto anel traqueal, abaixo da cartilagem cricoíde.

Este procedimento, realizado frequentemente em pacientes que necessitam de ventilação mecânica prolongada, tem como principal objectivo não prejudicar as cordas vocais destes mesmos pacientes, pela passagem do tubo endotraqueal.

Recorre-se a este procedimento por diversas razões:
  1. Para desviar a obstrução da via aérea superior;
  2. Para permitir a remoção das secreções traqueobrônquicas;
  3. Para permitir o uso da ventilação mecânica por longo prazo;
  4. Para evitar a aspiração de secreções orais ou gástricas no paciente inconsciente ou paralisado;
  5. Para substituir um tubo orotraqueal/endotraqueal.
A traqueostomia pode ser definitiva, se estivermos perante uma laringectomia radical, ou provisória, em situações de ventilação assistida prolongada ou devido a algumas cirurgias ao nível da cabeça e/ou pescoço.

Este procedimento, apesar de ter algumas vantagens, especialmente para melhorar o conforto do paciente, acarreta também algumas desvantagens, para as quais temos que estar atentos, tais como:

  1. A presença de uma traqueostomia não utiliza os meios fisiológicos de aquecimento e humidificação do ar, o que leva à formação de secreções mais secas e espessas;
  2. Formação excessiva de secreções;
  3. Dificuldades na deglutição (o que neste caso em concreto não se considera, para já, uma vez que o paciente é alimentado por sonda nasogástrica);
  4. Dificuldades na comunicação oral, o que pode comprometer a relação familiar e a relação entre o profissional de saúde e o paciente;
  5. Alterações ao nível da auto-imagem;
  6. Aumento dos níveis de ansiedade, relacionado com as desvantagens anteriormente referidas;
  7. Susceptibilidade a infecções respiratórias;
  8. Susceptibilidade a infecções no local de inserção da cânula.


Cuidados de Enfermagem ao Paciente Traqueostomizado


Os cuidados de enfermagem ao doente traqueostomizado passam por três parâmetros fundamentais:
  1. Manter a permeabilidade da via aérea;
  2. Evitar a infecção;
  3. Favorecer a adaptação do doente à traqueostomia.

1.     Manter a permeabilidade da via aérea:
Aspirar as secreções em SOS;
Humidificar a traqueostomia com nebulizações, com soro fisiológico;
Mudar a cânula interna em cada turno e sempre que necessário;
Promover a hidratação do paciente;
Estimular o paciente a inspirar profundamente e a tossir;
Auscultar ambos os campos pulmonares periodicamente.

2.   Evitar a infecção:
Lavar as mãos antes de qualquer procedimento;
Realizar, sempre que necessário, o penso no local de inserção do tubo, lavando com soro fisiológico e desinfectando com iodopovidona;
Assegurar que a cânula está sempre bem fixa;
Mudar a cânula externa periodicamente, conforme necessário e diariamente, no caso de existir infecção;
Aspirar a cânula, sempre que necessário, com sonda estéril e após calçar luva estéril na mão dominante;
Evitar aspirações desnecessárias;
Promover uma boa higiene oral;
Ter atenção ao estado de limpeza do nebulizador.

Favorecer a adaptação do paciente à traqueostomia:
Transmitir segurança e tranquilidade ao paciente;
Proporcionar um ambiente confortável;
Proporcionar informação ao paciente e à sua família, desde o período que antecede à colocação da traqueostomia;
Estabelecer meios eficazes de comunicação, divulgando-os por toda a equipa multidisciplinar;
Mostrar disponibilidade para com o paciente e a sua família, no esclarecimento de alguma dúvida;
Ensinar o paciente a falar, tapando a cânula, sempre que necessário;
Ensinar o paciente a tossir com a cânula tapada por um lenço, para evitar que tussa para cima de outras pessoas;
Estimular o autocuidado;
Ensinar a família a lidar com o paciente traqueostomizado;
Encaminhar para grupos de apoio, se necessário.



Registos de Enfermagem

Os registos de enfermagem constituem um instrumento de trabalho muito valioso, na medida em que permitem a continuidade dos cuidados de enfermagem, tendo por base os mesmos princípios, os mesmos conhecimentos e os mesmos métodos de trabalho.

Relativamente aos cuidados com o paciente traqueostomizado, devem-se registar os aspectos físicos, os aspectos psicológicos e os aspectos sociais, como podemos observar no esquema seguinte:
É importante que estes registos sejam realizados de forma clara e concisa, para facilitar a leitura da informação e a continuidade dos cuidados. Além disso, estes registos devem ter por base a abordagem holística do paciente, uma vez que este interage consigo próprio e com o meio e as pessoas que o rodeiam.



Considerações Finais

A traqueostomia é um procedimento muito delicado, quer para o paciente quer para quem o executa, pelo que é importante que o médico e o enfermeiro conheçam, antecipadamente, toda a história clínica do paciente para que lhe possam explicar, de forma adequada, o procedimento que vão realizar, quais as suas vantagens e também quais os riscos associados.

Este procedimento, apesar de vantajoso para o paciente, em termos de conforto, constitui também uma grande porta de entrada a microrganismos e, consequentemente, uma maior susceptibilidade a infecções, quer respiratórias quer no local de inserção da cânula de traqueostomia.

Assim sendo, o enfermeiro deve, acima de tudo, prestar cuidados ao paciente com traqueostomia tendo por base a prevenção da infecção, na medida em que a sua prevenção constitui a primeira meta de conforto do paciente.

A realização deste pequeno trabalho fui muito frutuoso para mim e para a minha formação académica. A observação da realização da traqueostomia foi um momento muito lúdico e proveitoso para mim, uma vez que nunca antes tinha tido esta oportunidade.

Além disso, com a observação da consecução deste procedimento pode perceber de que forma é que o enfermeiro, o assistente de enfermeiro e o médico interagem durante o mesmo.

Em suma, espero que com esta pesquisa possa estar mais apta à prestação de cuidados adequados ao paciente com traqueostomia, prevenindo a infecção e promovendo o conforto do paciente.


Bibliografia

Apontamentos fornecidos na Unidade Curricular de Enfermagem de Médico-Cirúrgica e de Reabilitação. Coimbra, 2010/2011.

MARTINS, José Carlos Amado; Castilho, Amélia Filomena O. M.; Simões, Isabel Maria H. Cuidados de Enfermagem ao Doente com Traqueostomia. [Em linha]. s.d. [Consult. a 9 de Setembro de 2012]. Disponível em WWW:<URL:http://www.esenfc.pt/rr/rr/index.php?id_website=3&d=1&target=DetalhesArtigo&id_artigo=2045&id_rev=5&id_edicao=19>.


4 comentários:

  1. Na necessidade de fazer insuflação manual conectamos o insuflador diretamente à cânula ou existe máscara de reanimação especifica para traqueostomizados? Surgiu-me esta dúvida e gostava de ficar esclarecida =) Obrigada

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